Escuta

Escuta!
Este é um poema.
Não fala de amor,
Não fala de fé,
Não fala dos meus sonhos
Ou dos sonhos de um alguém qualquer que se deixou levar ao vento, destruindo todas as expectativas da vida.


Não fala de paz,
Nem do silêncio que se faz quando me deparo no espelho.
Eu e eu, e agora?
Campilho dizia,
Tinha razão ao definir como o maior dos silencios o encontro conosco.

Mas, escute lá.
Este é um poema
E não fala de dor,
Nem de uma crença qualquer.
Não fala de Deus,
Nem do homem.
Não fala das folhas de outono,
Ou da chuva que destrói moradas construídas pelo suor dos trabalhadores.

Escute só, isto é sério.
Enquanto cresciamos discutindo se medicina ou engenharia,
Milhares de poetas foram perdidos no tempo ,
ninguém os conhecia e nunca fizeram questão de conhecer
A mais bela arte de traduzir sentimentos que só eles sabiam fazer.

Então, escuta-me:
Este é um poema,
Trata-se de mim
Este é meu poema.
Este é um poema e talvez não saibamos ao certo o que é,
Mas não é simples,
Não é imenso,
Não é dor,
Não é drama.
É um poema.

Escute só:
Não fala das crianças abandonadas da África,
Nem das mulheres que sofrem diariamente com a dor de simplesmente ser mulher.
Não fala da segunda guerra mundial,
Nem do soldado que não voltou para casa
E deixou sua mulher e dois filhos sem sustento.
Escuta,
Este é um poema,
Não vai mudar teus conceitos,
Nem ajudar com teus sentimentos.
Não vai te fazer mais homem,
Nem mais mulher.
Não vai mudar,

Não vai mudar,
Não vai mudar exatamente nada.

Mas é um poema,
E, apesar de não dizer nada,
Fala tudo.



- Turim

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