Martírio

Saindo de mim tudo sai péssimo. Tudo o que faço, desfaço por medo ou ódio. Não. Ódio é uma palavra muito forte, até ontem não o sentia. O que digo é que não se sente o passado, portanto o ódio presente já não me possuirá amanhã, então direi novamente que até ontem não o sentia. O fato é que sinto, não mais pelo mundo ou do mundo, mas de mim, mais de mim do que do resto. Tudo ao meu redor é passageiro e facilmente substituído, menos eu. Por isso minha angústia.

O mundo me assusta, me esmaga, me enquadra, julga. Mas eu, eu me mato, me torturo, me bato, me saboto. O que de mais importante cuido é curto, vai embora sem que eu perceba. O que merecia minha paixão integral, que dou ao mundo, sou eu. Mas, que imbecilidade: eu que me aguento todos os dias, me mato diariamente e me afogo cada vez mais em um poço de mágoa e ódio próprio e o mundo, que de tudo faz para me inferiorizar, recebe de mim o amor mais ingenuo e puro que existe. Entrega? Não. Não se trata de um amor que se entrega, que se coloca acima do próprio eu, sim um amor egoísta, que não se preocupa comigo.



- Turim

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